quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O conturbado Natal do Senhor Junior

O Senhor Junior tinha por volta dos 40 anos, já com alguns fios de cabelo branco. Pintor de paredes durante o ano inteiro, agora estava em férias. Neste fim de ano, resolveu diferenciar as já tradicionais festas de confraternização: pretendia visitar alguns parentes em Niterói, no Rio de Janeiro.

Junior morava em Santo Amaro, zona sul da cidade de São Paulo. Agora estava no terminal rodoviário do Tietê. Esperava ansiosamente o momento de comprar a passagem que o levaria ao Rio. Guardou os 60 reais em sua carteira, e sentou em um banco na sala de espera do terminal.

No banco ao lado, havia uma mulher que logo lhe chamou a atenção. Ela vestia uma saia vermelha, com uma camisa regata preta e uma sandália sem salto. A beleza da mulher foi algo que impressionou Junior, mas uma coisa o deixou realmente inquieto: a mulher chorava copiosamente.

– Posso ajudá-la? – perguntou, preocupado.
– Acho que não – respondeu a moça, soluçando.
– Posso tentar, pelo menos? Diga-me o que está acontecendo – tentou Junior.
– Bom, – começou a moça, tentando cessar o choro – acabei de chegar a São Paulo, sou de Minas Gerais. Meu pai, que mora aqui, está gravemente doente. Vim visitá-lo, mas estou totalmente sem dinheiro, e como não conheço nada daqui, não sei o que fazer.
– Onde seu pai mora? – perguntou Junior, derretido pela história da moça.
– Ele está internado em um hospital perto da Avenida Paulista, se eu não me engano – completou a moça, com lágrimas nos olhos.

Posso ajudá-la, pensou Junior, Minha viagem pode esperar um pouco.
– Posso levá-la até a Paulista – sugeriu Junior à garota.
– Seria muita bondade sua.

Pegaram um táxi, pois era início da madrugada e todos os ônibus da cidade já não circulavam mais.
O desejo de amparar a moça era, apenas, pura solidariedade, não havia nenhum propósito sexual ou aproveitador. É natal, não é isso o espírito natalino? Ajudar o próximo? – pensou.

O Senhor Junior reparou que a moça não chorava mais. Até esboçava certo sorriso. Deve ser difícil chegar a uma cidade desconhecida, refletia ele. Pelo vidro do veículo, Junior e moça viam São Paulo iluminada pelas luzes do Natal. As árvores enfeitadas com pequenas lâmpadas brilhantes, as casas com muitos enfeites, as pessoas animadas com o calor do fim do ano. Era sábado, a cidade agitava-se na madrugada: o clima natalino estava no ar.

Quando o táxi parou em um pequeno congestionamento na Rua Augusta, a moça disse:
– Você pode me deixar aqui.
– Como assim? – perguntou Junior, estranhando a situação.
Ela abriu a porta e saiu do carro, correndo. Junior tentou segui-la, mas foi bruscamente interrompido pelo motorista do táxi.
– Você tem que pagar a corrida – gritava o motorista, nervoso – São 25 reais.

Enquanto pagava ao taxista, Junior viu de relance a moça chorosa entrar em um dos famosos inferninhos da Augusta. E o seu pai doente? Ela é prostituta! Fui enganado!





Feliz Natal!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Violência e festa

Vou falar de um assunto que realmente me interessa: torcidas organizadas. Apesar de ser paulistano, passei grande parte da minha vida morando em outros lugares e só esse ano voltei a viver em minha terra natal, finalmente podendo acompanhar meu time de coração de perto: Corinthians. Passei 2007 freqüentando estádios junto da torcida que faço parte.

Antes de ler esqueça seus pensamentos preconceituosos formados através da imprensa sensacionalista. Ao contrário do que muita gente pensa nem todo mundo que faz parte de uma torcida organizada é bandido, drogado ou maloqueiro. Existem pessoas normais que trabalham, estudam, possuem família e que fazem parte das torcidas uniformizadas. É óbvio que também há um bom número de marginais freqüentando tais locais, mas não caia no erro que algumas pessoas cometem de generalizar.

Primeiro é preciso se pensar nos fatores que levam um jovem a entrar em uma torcida. Auto-afirmação? Sim. Imagine você um moleque que vive em um bairro pobre, apanha da molecada da sua rua...Acredite, é em uma torcida que esse moleque vai buscar respeito. Muitos acham que entrando e andando com a camisa da torcida serão respeitados. Presenciei alguns casos assim. Mas há também pessoas que se filiam por gostar das festas que as mesmas proporcionam dentro dos estádios. Outros por influências de amigos ou por gostar de freqüentar estádios e ver na torcida uma forma de contribuir com o time.

De fato existe violência entre as torcidas. Há quem defenda a extinção delas, mas realmente será que as brigas acabariam? O fato de não termos mais a presença das faixas, camisas, bandeiras e o próprio show que elas proporcionam nas arquibancadas fariam alguns perderem o interesse. Mas é ingenuidade achar que não teríamos mais violência. Tivemos torcidas que foram extintas por um tempo, mas a própria PM solicitou junto ao ministério público que a extinção fosse reavaliada pois as torcidas continuavam brigando e era extremamente difícil identificar os torcedores já que eles não mais vestiam as roupas de seus respectivos grupos.

Alguns imbecis da imprensa esportiva insistem em dizer que a violência no futebol é exclusividade brasileira. Mas em alguns países europeus o negócio é bem pior que aqui. Lá além do fanatismo pelo futebol, algumas torcidas possuem grandes influências de ideologias neonazistas. É o caso da torcida da Lazio, da Itália. Que têm tantos skinheads na torcida, que não é raro ver jogadores fazendo a saudação fascista para as arquibancadas. Atitude extremamente condenável. A violência do futebol atinge também Espanha, Turquia, Grécia, Croácia, Inglaterra, Alemanha, entre outros. A diferença é que nestes países se um torcedor é pego, ele realmente é punido. No Brasil muito dificilmente algo é feito. O indivíduo vai pra delegacia presta esclarecimento e pronto, está livre para ir embora. E é aí que está a grande falha.

Na Inglaterra, berço dos famosos hooligans, a violência diminui muito. Providências mais sérias foram tomadas após o massacre ocorrido no estádio do Sheffield Wednesday onde 96 torcedores do Liverpool morreram esmagados contra o alambrado, depois que uma confusão estourou nas arquibancadas. Aconteceu no jogo de semifinal da FA Cup entre Liverpool e Notthingham Forest em 1996 e o episódio ficou conhecido como tragédia de Hillsborough. Depois disso instalaram câmeras em todas as dependências dos estádios e em suas adjacências, prenderam os chefes de torcida e passaram a ter leis específicas e rigorosas quanto às brigas no futebol. Lá inclusive foi criada uma lei onde o torcedor pego em uma briga é obrigado a se apresentar em uma delegacia duas horas antes do jogo e só pode sair duas horas depois, e deve fazer isso por dois anos. Imagine o que é para um torcedor fanático ficar dois anos sem poder assistir seu clube de coração? Ele no mínimo vai pensar duas vezes na hora de brigar novamente. E se ele não se apresentar na delegacia eles aumentam em seis meses a pena, chegando a manter o indivíduo preso se as faltas forem superiores a três. As brigas hoje na Inglaterra não são como antigamente, tanto é que os hooligans ingleses aproveitam para brigar em torneios e jogos de seus times em outros países europeus.

Está claro que o Brasil precisa de uma legislação específica para o futebol. A maioria dos torcedores sabe quem são os líderes de torcida que estão nas brigas e confusões Mas a polícia não faz nada. Já presenciei uma briga em que o policial dizia: “Deixem se matar depois a gente volta e prende alguém e tá tudo certo”. Pois é. Enquanto não houver punições severas pode esperar que vai continuar do jeito que está.

O papel da imprensa nessa hora é informar com responsabilidade. Acontece que muitos programas transmitem tais fatos de maneira leviana e sensacionalista, acredite, trazendo ainda mais prestígio e fascinação entre a molecada que almeja um dia entrar uma torcida. É como o brilhante Paulo Vinícius Coelho da ESPN Brasil falou: “Se um torcedor é morto em uma estação de metrô a 20Km do estádio, isso passa a ser um problema de violência urbana e não do futebol”. É preciso ter cuidado para não tirar a responsabilidade dos órgãos públicos, pois está claro não há seriedade na hora de punir os infratores. Ir a um estádio de futebol não é das tarefas mais tranqüilas, mas também não é nenhuma ida ao inferno. Há um certo exagero em relação à violência nos estádios, quem freqüenta sabe que é uma atividade qualquer, que exige apenas alguns cuidados básicos, do mesmo jeito que exige um show ou algum evento com grande aglomeração de pessoas. Até porque é impossível brigar no estádio, as confusões acontecem em locais distantes e muitas vezes são marcadas com antecedência pelos torcedores.

Acabar com as torcidas é transformar o espetáculo que é um jogo de futebol em um jogo de vôlei. Todo mundo sentadinho assistindo quietinho. O que não corresponde ao amor do brasileiro. Futebol é paixão, fanatismo, choro, alegria...Falta a responsabilidade tantos de seus freqüentadores quanto das pessoas que fiscalizam o esporte, Aí sim, o espetáculo seria perfeito.

Obs: Divulguei esse blog para alguns seres abissais, por favor, não se sintam tímidos em comentar.

sábado, 8 de dezembro de 2007

E Sato disse: Faça-se a postagem!

Vou reafirmar uma coisa: Eu não vou seguir ordem de postagem coisa nenhuma! Se vocês querem postar aqui numa ordem toda semana, o problema é de vocês dois! Se não gostaram é só me expulsar! Por culpa dessa regra imbecil eu estou aqui sem ter o que falar só para cumprir tabela. Aí eu sou obrigado a falar de uma coisa idiota, de uma forma idiota pra chegar num resultado idiota só para eu poder dizer "postei". Então chorem:


Eu estava aqui me lembrando de conversas minhas para ter uma idéia e lembrei de uma coisa legal: ataques de loucura.

Eu e o Daniel estamos sempre conversando sobre coisas sem sentido e começamos a imaginar acontecimentos absurdos, como dar um murro com soco inglês em uma velhinha de bengala que está tentando entrar no vagão do metro e gritar "Sai tia! Sai no rolê!". Ou pegar um copo de 700ml cheio de Coca-Cola e jogar na cara dando uma risada alucinada. Ou ácido! Ou ainda fazer um bate-cabeça no elevador lotado. Ou explodir o elevador lotado! Andar na rua e dar um tapa em uma pessoa aleatória, gritando "CALA A BOCA! CALA A BOCA! AHHHHHH!". Esse tipo de coisa que todo mundo gostaria de fazer em um momento de cérebro desligado, agir totalmente por impulso e rir. Rir como se não houvesse amanhã.

Eu realmente acho que, se tem uma forma de nos libertarmos dos nosso problemas e sermos felizes, é fazendo algo assim. Porque, muito provavelmente, o cara que fizer qualquer uma dessas coisas, entre outras, não terá a chance de continuar a vida mais tarde. Mas é isso que procuramos, um momento de 100% liberdade. Vivemos nossa vida inteira pelas regras da sociedade, estudamos feito uns loucos para trabalharmos feito uns loucos e forçamos a sanidade em nossas cabeças, se é que pode chamar de sanidade viver pelas regras que os outros impõem. A verdade é que ninguém vive como quer, não importa como veja. "Ah, mas eu sou feliz.". Pode até ser, mas não é o bastante. Feliz é o cara que mora no meio do mato longe da civilização e acha que não precisa de mais nada. Ele sim faz o que quer!

É por isso, alias, que eu gosto do Coringa (do Batman). Ele como vilão é meu sonho de vida. Ele é doentio, perverso e espontâneo. E acha isso muito engraçado. Vocês devem estar achando que eu gostaria de ser um psicopata assassino e enlouquecido, não é? Pois vocês estão certíssimos. Se eu tivesse chance de sair matando quem eu quisesse e pudesse sair impune dessa... Eu ia livrar o mundo de um monte de gente que eu não suporto, incluindo eu mesmo quando terminasse o serviço.

sábado, 24 de novembro de 2007

Vi o Beto Bruno e não gritei

Após a dor de barriga do Daniel...


Se você procura diversão, vá para a Augusta! Para um jovem bêbado ou que e queira tornar-se um é o lugar ideal. Pegue o metrô, desça na Consolação, e boa viagem! Conheça tudo, repare em tudo. Seja feliz. Ou não.

Não deixe de aproveitar o que ela tem de melhor: os botecos! Beber na Augusta é diferente, é mais saboroso, mais excitante. E o bom de beber (se é que isso existe) é a conversa, o bate-papo com os amigos, e amigos de momento. Falar de futebol com o balconista, comentar política (?) com o punk ali sentado, pegar um papel no lixo para uma Marina qualquer. As amizades de bar são eternas. Eternas enquanto duram.

Depois da demorada introdução, vamos logo à história.

Andando na Augusta, em meio a prostitutas, bêbados, indies, punks, policiais, mendigos, e alguns seres não identificados, cheguei ao Inferno. Não se assuste, não virei refém de um travesti, nem apanhei de um careca qualquer. O Inferno é uma casa de shows. Muito famosa, inclusive.

Entrei para ver o espetáculo. Como sempre, a banda demorou para subir ao palco. Aliás, essa é a parte chata de todos os shows: ter que agüentar a discotecagem. E o Inferno faz questão de tornar a espera pior ainda, pois, querendo ser alternativo, passa dos limites. Deus sabe como sofro ouvindo aquilo. Que horror.

Duas horas depois, finalmente levantei para ver a banda. Os Faichecleres! Aqueles guris de Curitiba conseguiram conquistar este coraçãozinho de pedra. Letras engraçadas, boas músicas e...animação! A performance de palco é sensacional. Muito agitada.

Para surpresa geral, os caras do Cachorro Grande estavam na casa também. E como todos sabem, gosto muito deles. Com duas bandas no recinto, você pode imaginar a quantidade de groupies e aspirantes que havia, né? Milhares! Estavam excitadíssimas. Um grito aqui, uma passada de mão ali. Fizeram a festa com os garotos.

Logo na fila, ouvi uma menina falando à outra: “No último show deles, o Tuba (baterista do Faichecleres) me pegou três vezes”.

........Pausa para o vômito........

Lá pras 3 da madrugada fui ao banheiro. Lavei as mãos e o rosto, e esperei o meu amigo na porta. Como um fantasma, surgiu do nada, Beto Bruno (vocalista do Cachorro Grande e famoso). Parou na minha frente, e ficou olhando para mim durante alguns segundos. Até agora não entendi a cena. Não havia motivo para ele ficar ali, muito menos para a “encarada” gigantesca. Sim, você está pensando que pedi um autógrafo ou uma foto, como qualquer fã faria, né? Antes um rápido comentário:

Talvez, a bajulação ao artista esteja ligada ao desejo do ser humano de fugir da realidade, de não encarar seus problemas, sua vida. Idolatramos outras pessoas porque elas têm aquilo que sonhamos, um mundo sem obstáculos, perfeito, rico, glorioso. Enquanto nós, meros mortais, temos dívidas, dúvidas, erramos. Sofremos a mediocridade da normalidade (perdão pela rima), do anonimato, da vida sem grandes feitos. É por isso que adoramos novela, Big Brother, estrelas do rock, alemães e siris. Vivemos o outro, pois o outro é tudo que gostaríamos de ser.

Eu, um orgulhoso nato, mesmo que morrendo de vontade, não pediria um autógrafo nem se o John Lennon aparecesse na minha frente agora. Quero crer que não sou (apesar de ser) tão insignificante assim. Idolatrar alguém, para mim, é admitir que ela seja melhor que eu. Talvez até seja, mas confirmar isso, nunca! (Um orgulhoso não confessa estar errado nem se estiver cara a cara com o tinhoso).

Agora, você, leitor amigo, quer saber o que falei para o Beto Bruno, né? Vou contar.

Ele continuou olhando para mim, parado na porta do banheiro, o tempo passando e eu sem palavras, mudo. As groupies, do lado de fora, chamando-o, gritando histericamente, freneticamente. Foi aí que soltei, antes de ir embora, a melhor frase que já pronunciei na vida: “E aí, beleza?”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

The Meaning of pain

Nunca postei nada aqui (tirando aquele lixo de texto inicial). Meus amáveis colegas postam seus disparates pelo menos uma vez por semana...E como o venerável Sato anda me cobrando, resolvi postar. Já me cansei das críticas políticas, reflexões sobre a vida e outros temas que circulam por esse espaço. Até porque quem conhece os meus companheiros de blog sabe que eles não são muito preocupados com estes assuntos.

The Meaning of pain

Bom, faz tempo que observo religiões, às vezes por pura falta do que fazer e outras (poucas) por sentir curiosidade em ver as reações de seus respectivos seguidores. Notei que praticamente todas possuem idéias de lugares por onde nós passaremos (ou pelo menos eu passarei) a eternidade no sofrimento. Inferno, purgatório, vale das sombras, colo do capeta, fila do INSS, show de funk e etc. Sim, meu caro leitor, concordo que são formas terríveis de sofrimento, mas engana-se quem pensa que alguma dessas formas foi a escolhida por Deus para punir a humanidade. A que O Todo Poderoso escolheu foi uma bem pior: a dor de barriga. Quem nunca foi agraciado com uma bela de dor de barriga? Seja sincero! Aquela que vem do nada quando você menos espera, que faz o suor descer pelo rosto e o desespero tomar conta de sua alma.

Tudo começa quando você está na rua, estádio, rodoviária ou em algum outro lugar onde as condições de higiene não são grandes prioridades. Faz várias horas que você não se alimenta...Seu estômago reclama, suas pernas estão fracas, quando você avista aquela bela coxinha de frango espumando gordura no boteco mais próximo. “Boteco do Zé”, “Empada da gostosa”, “Tião’s bar”, são alguns dos nomes mais comuns para estes estabelecimentos. Você desesperado por algo para encher o bucho, logo pergunta: “Quanto é essa coxinha aí?”. O atendente responde que custa apenas 50 centavos, e que você ainda pode levar um suco de maracujá se acrescentar mais 25 centavos. Mas pensando em seu bem-estar, vem aquela pergunta clássica: “Foi feita quando isso aqui, amigo?”. E o atendente sem dar muita bola pra você responde: “Rapaz, têm uns dias que ta aí, eu ia comer na terça passada, mas enchi a barriga de mocotó e fiquei sem vontade”. Deus como é sempre muito justo envia alguém para te alertar sobre os males que aquela anomalia (sim, a coxinha) pode lhe causar. Geralmente é um amigo, namorado (a) ou familiar que diz: “Você vai comer isso aí? Tá louco? Isso aí tá parecendo um bicho morto! Rapaz, não come, isso aí vai te dar um revertério que só Jesus pra te salvar depois”. Esquecendo as súplicas daqueles que te amam você come, sente a gordura da coxinha espumando pela boca e em alguns casos sente os espasmos dados por ela não tentativa de sobreviver. A desgraça está feita, agora só resta esperar pelo pior e agüentar o martírio com dignidade. Passam-se as horas, algumas contrações são sentidas na barriga, mas nada muito sério (ainda), mas a desgraça ocorrerá em questão de horas e o diabo já se delicia em pensar no seu sofrimento. Mas sem nem imaginar o que irá acontecer o pobre infeliz vai dormir. No dia seguinte você acorda com o rosto amarelado, e já não se sente tão bem quanto antes. Mas a vida não pode parar. Você se arruma e vai realizar suas tarefas diárias. O pior de sofrer com esse male não é totalmente pela dor e sim estar na rua sem as condições necessárias para realizar a tarefa. Veja abaixo os possíveis lugares que isso pode acontecer e lhe causar desespero, veja se você já passou situação parecida.

Ônibus/Metrô/Trem: Bom, esse é sem dúvida o pior de todos, ainda mais se você viver em uma grande metrópole como Satã Paulo (digo, São Paulo). No caso do trem e do metrô a sua dor de barriga será antecipada, devido aos socos e cotoveladas que você levará na barriga. Você vai estar lá, só com a possibilidade de movimentar o pescoço por causa da lotação que contraria as leis da física, quando ela irá atacar. É. Não há o que fazer, se você tiver muita fé implore a Deus para diminuir a intensidade de sua punição. Certa vez, vi isso acontecer com um rapaz na linha vermelha do metrô de São Paulo às 7:00 da manhã. Meu Deus, o pobre ser humano se retorcia e fazia expressões de horror. Confesso que acompanhava a cena com extrema atenção para ver a reação dele, era de dar dó. Em um momento era possível ouvir suas preces: “Por que meu pai? Logo eu? Por que eu? Aaaaa uuuuu,”dentre outros suspiros indecifráveis. Nessas horas é que você vira um bom cristão, promete nunca mais beber, ir a missa com freqüência, se tornar missionário da igreja e viajar para a África entre outras promessas na esperança de se livrar da dor. No caso do transporte público você tem duas alternativas: mandar ver ali mesmo e ser espancado pelos outros, devido ao cheiro não muito agradável; ou agüentar firme até o próximo banheiro. No caso da segunda alternativa, muito provavelmente só monges tibetanos, que possuem controle total da mente, conseguem, mas você pode tentar...Quem sabe Deus fica com pena de você.

Na rua: Meu ídolo Sato já me contou situações de pessoas que tiveram que passar por essa provação estando na rua. Não sei se a situação foi com algum amigo dele, como o próprio contou, ou se foi com ele mesmo. Sabe como é, às vezes por vergonha contamos a estória, mas como se tivesse acontecido com outra pessoa. Nesse caso, não é tão difícil, pois é só procurar um local que tenha banheiro e exorcizar o demônio que se encontra em sua barriga. Uma dica: Eu sei que é difícil, pois quando você está passando mal não lembra nem do seu próprio nome, mas verifique se o banheiro a ser utilizado possui papel higiênico, do contrário...Você se fodeu! O Sato certa vez me disse que se não houver papel o mais aconselhável é utilizar as meias ou a própria cueca, segundo ele o que estiver mais velho é o mais apropriado para situação, visto que será descartado logo em seguida. É interessante que alguns estabelecimentos possuem uma taxa para se utilizar seus banheiros. Bom. Se pelo menos esse dinheiro fosse utilizado para a limpeza dos mesmos. Nessa situação, o indivíduo joga a carteira no balcão e diz: “Cobra quanto você quiser, mas me deixe usar essa porra!” E sim, quando estamos com dor fazemos coisas que normalmente não faríamos, não é mesmo Sato?

No estádio: Esse aqui é complicado. Alguém já viu como é o banheiro de um estádio brasileiro? É a coisa mais degradante que existe. Um fedor insuportável. Torcedores gritando. Falta à tranqüilidade necessária expurgar os males internos...Impossível! Faça como eu, que fui assistir São Paulo X Corinthians no Morumbi e faltando alguns minutos para o fim da partida fui agraciado com a punição dos deuses. De início consegui agüentar porque a emoção de ver meu time vencendo era sensacional. Mas ao término da partida, quando recuperei a sanidade que costumo perder ao assistir meu time de coração, é que a coisa ficou feia. Sou corintiano e para poder utilizar o banheiro de um Habib’s localizado nas proximidades do estádio, passei a uns 200 metros da maior torcida organizada do São Paulo. Fazer o que? Um ser humano com o mínimo de dignidade não utiliza banheiros de estádio. Pergunte pra quem costuma ir a jogos que beleza que é.

Uma festa/balada: Você passa um mês esperando por aquela festa, mas o que acontece? Se for festa de criança pode ter certeza que quando você sair do banheiro vai ter um pirralho te esperando só pra falar: “Por que você demorou?” ,ou ainda, “O que você tava fazendo, tio?”. Se for balada...Bom, não sei. Nunca vi isso acontecer com ninguém em balada, sério mesmo. O álcool deve ser um agente inibidor. Sabe como é banheiro de balada, né? Se isso acontecer neguinho vai te filmar, fotografar, colocar no youtube...Vai saber.


É por isso que recomendo que você se alimente em casa e somente com coisas saudáveis. Comer na rua te leva a essas situações. Mas se não tiver jeito existe alguns fatores que podem identificar um estabelecimento com alimentos estragados.

Verifique se o próprio atendente ou dono do local possui aspecto limpo, pois se ele é porco com a sua aparência, imagine com os alimentos que faz.

Enquanto você come o funcionário olha pra você rindo ou com cara de dó? Indício irrefutável.

Verifique se há outros clientes na loja. Se estiver apenas você é porque o lugar é uma bela merda e os alimentos não devem ser feitos diariamente.

Cuidado com alimentos “suados”. Se é que você me entende.

Alvará de funcionamento vencido? Última inspeção da vigilância sanitária em 1998? Fuja dessa extensão do inferno o mais rápido possível.

Alimentos muito baratos também não são muito confiáveis. Não ouça o Sato quando ele diz que conhece um lugar que vende hambúrguer por 1 real. Todas as experiências dele com dor de barriga foram logo após visitar esse local.

Faltar com educação quando estiver falando com um funcionário é um erro fatal. Ele vai te oferecer como refeição aquele salgado que estiver com a colônia de fungos mais desenvolvida.

Evite pães de batata (alguns entenderam)

Mas mesmo sendo cuidadoso, não adianta fugir, correr, gritar ou rezar, pois quando menos você esperar ela vai aparecer. Na rua, no metrô ou em qualquer lugar...HAHAHAHAHHA SEE YOU IN HELL MOTHER FUCKER

Nojento? Eu? Você ainda não viu nada!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A mídia faz média mentindo?

Bom, o Daniel disse que ia ser o próximo a postar, mas, como demorou demais (apesar de dizer que o texto dele já estava pronto), eu resolvi fazer o serviço sujo de escrever.

Falando em "serviço sujo" e "escrever" na mesma sentença, resolvi falar dessa coisa que ando presenciando, não só na minha vida pessoal, mas no jornalismo de uma maneira geral também: a mentira. Só que estou exagerando ao falar que é mentira, o certo é manipulação da verdade, ou, para alguns, omissão da verdade completa.

Existem momentos e fatores que obrigam a mídia a expor uma informação de forma mais leve. Eu lembro de uma palestra em que alguém disse que, quando acontece alguma tragédia, como um acidente bem feio de avião, a mídia diz que a lista de mortos ainda não foi divulgada. A questão é que, muitas vezes, isso é uma mentira descarada! Opa, não é mentira, é omissão da verdade: acontece que, por respeito às famílias, a tal da lista não pode ser exposta à nível público antes que os próprios familiares saibam.

Outro exemplo é, ainda na questão dos acidentes, quando dizem que a vítima morreu rapidamente e não sentiu dor. Dá pra imaginar com que tipo de fúria a população, ao saber que uma criança morreu de forma lenta e dolorosa, iria para cima de uns moleques que, bêbados, a mataram de forma fria e cruel?

Claro que esses exemplos e respectivas explicações são apenas um lado da moeda. Podem existir diversos outros fatos e fatores que eu não saiba ou não tenha dito. A questão é: como aluno de jornalismo eu também escrevo matérias (com rascunhos, primeira versão, revisão, versão final) e nesse processo eu me deparei, inúmeras vezes, com esse dilema: até que ponto uma verdade é realmente verdade? Aumentar ou diminuir uma informação pode ser apenas uma questão de má interpretação. E aí, saindo do meu mundo universitário e ampliando para o global, até onde a mídia vai nessa história? Até onde é verdade o que eles dizem pra gente todo dia de manhã? Até onde isso é manipulação?

No livro "Elementos do Jornalismo", de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, há uma lista de itens fundamentais para exercício desta profissão. Entre elas: "Sua primeira lealdade é para com os cidadãos." e "Seus profissionais devem ter direito de exercer o que lhes diz a consciência.". Mas onde está essa consciência?

Não consigo nem chegar em um ponto definitivo nessa história, mas achei que seria interessante deixar a idéia no ar para que haja um pouco de filosofia neste assunto, por parte de vocês. É apavorante imaginar que, o tempo todo, você pode estar sendo controlado com umas cordinhas, pensando o que querem que você pense.

Ou estou mentindo?

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A bíblia, o gato e o careca

Eu costumo ser um crítico voraz de tudo, quem vive comigo sabe disso. Aliás, no Brasil, jornalismo é a arte de criticar. Como sou um aprendiz desse ofício, e brasileiro, sou um chato por natureza. Falo mal da camisa verde do professor, da cadeira quebrada, do pão-de-batata alheio. Apesar de gostar de pão-de-batata, não tanto quanto certo amigo oriental, é claro. Maldizer faz parte de mim. É intrínseco. (procure no dicionário)

Um dia desses fiquei observando um evangélico no trem, daqueles que pregam, sabe? Ô carinha chato, meu Deus! (ou Deus dele, sei lá). Não parava de falar um segundo sequer. Se eu acreditasse no que ele disse, estaria perdido. Seria o maior pecador deste mundo. Falo mal dos outros, reclamo, bebo, não vou à igreja, olho as pernas de uma gostosa que passa. Estarei no inferno proximamente, com certeza.

Mudando de assunto (continuando a criticar), a quantidade de animais mortos jogados nas ruas de São Paulo é gigantesca. Gato, cachorro, porco. Estava eu indo para faculdade quando: no meio do caminho tinha um gato. Tinha um gato no meio do caminho. Não era um felino qualquer, estava mais para um pastel, de tão amassado. Só a cabeça estava intacta. Parecia clamar perdão, infeliz; em minha rua havia um cachorro preto cheio de sangue e apodrecendo. Virou comentário pelo bairro; o porco estava na porta do cemitério aqui perto de casa. Era macumba.

Será que Deus olha pelos animais também? Poderia ter perguntado isso ao evangélico maluco.

Agora PARE! Esvazie a cabeça. É hora de refletir, pois a coisa é séria. Conte até três!

Um. Dois. Três.

O dono do Bahamas (boate ou puteiro?), Oscar Maroni, pretende se candidatar à prefeito da São Paulo. Para quem não sabe, ele foi acusado de favorecimento e exploração da prostituição, tráfico de pessoas e formação de quadrilha. Se não bastassem os caraquinhas Serra e Alckmin, temos agora o cafetão. Careca também. Com um cidadão desses no poder, o que será nós paulistanos? Seremos todos putas?

Para maiores informações sobre Oscar Maroni:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u335184.shtml

Pronto. Volte às reflexões normais.

Prá não dizer que não falei de flores. Vou elogiar algumas coisas:

Li o livro do Pedro Bial, “Crônicas de repórter”. Gostei muito.
Aproveitando o aniversário de 40 da morte de Che Guevara, assisti “Diários de motocicleta”, de Walter Salles. Bem legal.
Vi também “O Jardineiro Fiel”, dirigido por Fernando Meirelles. Filmaço.
Ambos dirigidos por brasileiros.

Também fazemos coisas boas.

domingo, 7 de outubro de 2007

Hiato Criativo -> Maximizado

Bom, eu não pretendo seguir a imposição já feita aqui no blog com a frase "Cada semana um texto novo...", uma vez que eu não tenho a menor paciência para a coisa, mas já que é texto de estréia, não custa nada me esforçar um pouco e participar... Só que uma semana depois do texto Leandrístico, eu percebi que..... não há nada para falar...

Eu passei o tempo todo, desde que a gente inventou de fazer um blog, pensando num assunto e eu mal atualizo meu próprio fotolog por causa de falta de idéias (ou preguiça, na maior parte das vezes...) e eu não consegui nenhuma idéia sequer que eu pudesse abordar nesse troço. Eu vim de olhos vendados e resolvi escrever tudo o que desse na telha e dane-se se ficar bom ou não, mas... sei lá!

É isso... Acabou! As últimas semanas foram agitadíssimas, com vários trabalhos acadêmicos, andando (e correndo... em algumas ocasiões) 10 quilômetros atrás de matérias, entrevistas com catadores de lixo e integrantes de instituições caridosas, deadlines, porpetas, festas, roupas para serem lavadas, textos e livros para ler e resumir, pesquisas, CDs e DVDs para gravar, seminários para preparar, bilhetes únicos para serem carregados e o sistema deles fora do ar, trabalhos para imprimir e o sistema deles também fora do ar, mulheres e homens para serem conquistados e foras para serem tomados, promessas que precisam ser cumpridas, fotos para procurar, trabalhos antigos para revisar, aquele puta frio enquanto fica na calçada da Augusta a madrugada toda, o relógio que precisa ser ajustado, o jogo que acabou de sair e pede para ser jogado, os filmes ruins do cinema ("O Vidente" com Nicolas Cage não chega a ser horrível, mas é muito decepcionante...), computador para formatar porque o LINUX é uma droga, desenhos japoneses, coisas geeks para fazer, o inferno que não vai esfriar esfriar e o céu que falta descer..... e eu realmente não tenho nada para lhes dizer!

Quem sabe na próxima.
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ATUALIZAÇÃO DO AUTOR:
Putz, eu tinha acabado de postar aqui, quase ao mesmo tempo que o Leandro postou no fotolog dele. Qual não é nossa surpresa quando a gente percebe que tivemos exatamente a mesma idéia de texto, no mesmo momento e na mesma estrutura??? Naturalmente, o dele massacrou o meu, como um lobo massacra um coelhinho. Eu até ia deletá-lo e tentar escrever um novo, mas eu já não tinha idéias antes, imagina agora! Além disso, que venha a humilhação pública, não sou tão covarde assim.

Meu primeiro texto no blog e eu já me sinto um fracassado... é mole??? O fundo do poço não foi o bastante pra mim, eu tinha que ir mais longe!

sábado, 29 de setembro de 2007

Explicações de um Neurolista

Depois de séculos de espera, está aí o famigerado blog!

Bêbados, mal humorados e, acima de tudo, não-apreciadores de seres da culinária italiana, somos jornalistas de botequim que, por razões mil, resolvemos divulgar nossas idéias esdrúxulas.

A escolha do nome foi, talvez, a tarefa mais difícil, pois precisávamos de algo que refletisse a nossa alma, nossa identidade. (mentira pura). Pensamos primeiramente em alguma coisa relacionada a Esparta, cidade famosa pela raça de seus guerreiros, que resistiram longos dias ao ataque grego. Nós, meros fanfarrões, não somos merecedores de tal título, logo, escolhemos aquilo que mostra realmente o que somos...neuróticos!

Neurolista = humano que, por causa desconhecida, aliou ao jornalismo, toda perturbação mental e emocional, cujos sintomas se manifestam por um comportamento obsessivo, tal como raiva excessiva, medo, ansiedade ou ódio sem razão aparente.

Ser jornalista é, talvez, a única forma de exaurir todo nosso ódio pelas faces medíocres do mundo. Ser jornalista é, para nós, andar 10 quilômetros, tomar chuva, sol, entrevistar catadores de lixo, buscar reportagens de onde elas realmente devem surgir: da rua! Mesmo que para isso, precisemos sofrer como frangos quando estão perto da degola.

Esta tribuna, meu caros, servirá como manifesto contra a opressão de editores de meia-tigela, contra senhores feudais da imprensa e, acima de tudo, contra seres da culinária italiana.

O mundo será outro a partir de agora!

Este é o meu primeiro texto! Espero que gostem do blog, virão muitos textos por aí. Alá esteja conosco.

Obrigado.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Início do inferno!

Os infelizes realizam as tarefas chatas (e necessárias.), por isso aqui estou eu escrevendo o texto inicial desse blog. Não possuímos a pretensão de escrever nada muito extraordinário, como Sato meu amigo, ídolo, guia espiritual, já informou na descrição desse blog...Temos a intenção de escrever crônicas sobre acontecimentos relacionados ao curso de Jornalismo, mídias e etc. A idéia desse blog surgiu em um belo dia em nossa cinzenta (porém amada) São Paulo, quando três pobres e atormentados estudantes de jornalismo andavam aproximadamente 10 km em busca de uma matéria para um trabalho no 1º Semestre do curso. Uma forma de se manifestar contra a opressão de seres da culinária italiana (alguns entenderam, acredite). Mas este é um assunto para textos futuros.

Você que entrou nesse espaço, se tiver um tempinho e paciência sobrando, por favor, comente...Sua opinião é muito importante para nós(hum, até parece).

Cada semana um texto novo de um dos três idiotas. Obrigado!