segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Crônica de um assalto excêntrico

Eu só tinha vivido dois momentos realmente perigosos nos últimos 19 anos: quando um carro passou por cima dos meus pés e o dia em que uma pedra perdida acertou a janela do ônibus onde eu estava. Eis que, depois de meses de sossego e muita água de coco bebida, eu ouço a seguinte frase:

– Passa o celular, mano. Isso é um assalto.

Não é que eu achasse o momento inadequado para o pedido em questão, mas, convenhamos, assaltar uma pessoa às 18h30 é algo esquisito, ainda mais se for em frente ao cemitério perto da minha casa. Não combina. Assaltos acontecem à noite, em ruas desertas, sujas, com música de suspense no fundo, e não em locais como a rua do cemitério.

– Que isso, mano, o celular não – eu falei tentando convencer o ladrão.

E eu me orgulhava de poder dizer que sou um dos poucos paulistanos nunca assaltados. Nunca me apontaram uma arma, muito menos uma faca ou objeto cortante. Não tive a oportunidade de participar de nenhum sequestro (relâmpago ou não), nenhuma perseguição com carros, assaltos a bancos, tiroteios no Velho Oeste. Nada. No português vulgar, eu era virgem pra essas coisas.

– Passa o celular, mano, ou então vou te meter bala, tá ligado? – ele disse, me mostrando a arma por debaixo da camisa. – Vamos andando porque vem gente aí, no caminho você me passa o celular – sugeriu.

Andamos então. E nesse momento, toda a filosofia de Jack Bauer entrou na minha cabeça. “E se eu fugir? Sair correndo, sei lá. Geralmente esses bandidos são ruins de pontaria, ele não vai me acertar. Eu posso pular o muro do cemitério E se ele me matar? Aí danou-se, mas já estando no cemitério, não tem problema, fico por lá mesmo; é só enterrar.”

– Você é roqueiro, mano? – me perguntou o ladrão enquanto andávamos.
– Não.
– E essas roupas aí? – indagou. Eu vestia uma mísera camisa pólo, uma calça jeans e um All Star velho.
– Nem sou roqueiro, cara, mas curto o som sim.

Fomos andando, andando... E o papo nos deixando quase íntimos. Nada de ele pegar o celular. O bandido até me fez uma confissão:
– Mano, eu nem curto roubar, tá ligado? Minha parada é traficar.
– Entendo.

Eu queria acabar com tudo logo. “Me assalta de vez, porra. Leva a merda do celular embora. Deixa eu sair daqui, pegar o ônibus e beber uma cerveja em paz. Que merda, não sou psicólogo de ladrão”.

– E aí, você tá indo aonde? – ele perguntou.
– Encontrar a minha mina. – na verdade, eu ia sair com o Sato e com a Tati, mas achei que “sair com a mina” era mais apropriado para o momento.
– Ah, é? Mano, você é gente boa. Nem vou levar seu celular, tá ligado? Me dá um dinheiro aí, porque eu sei que você tem, e eu vou embora.

Eu, um pobre coitado, tinha vinte reais no bolso. Estava contado para as despesas da noite. Mas é melhor dar vinte do que perder o celular. Entreguei a nota para ele.

– Aí, mano, não é pra correr atrás de mim. Senão te meto bala, tá ligado?
– Tô ligado.
– Cara, você é firmeza. Quer saber, vamo ali no bar e a gente troca essa nota de vinte. Cada um fica com dez, beleza? – disse.

O cara me assalta e ainda quer me dar o troco? Que estranho. Os assaltantes estão mudando. Culpa da crise, talvez. Falta dinheiro circulando, o crédito diminuiu, as empresas estão demitindo. A marolinha virou tsunami, até os bandidos estão sentindo os impactos. Temos que dividir o nosso dinheiro para um longo inverno, como dizem por aí os políticos.

Ah, no final ele não trocou o dinheiro por medo do dono do bar o reconhecer. Quanta insegurança, não é? Apertou a minha mão e foi embora. Pobre ladrão, talvez ele só quisesse conversar.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Flerte

O senhor Leandro e eu saímos ontem e, conversando sobre isso em vários momentos, chegamos à conclusão de que todo mundo tem um momento parecido com esse: você e mais alguém estão andando na rua e duas pessoas (duas garotas, em nosso caso) vêm na direção oposta. Elas olham para vocês, dão um sorriso. Vocês olham para elas, dão um sorriso. Elas dizem "hey, guys", em inglês mesmo, e passam reto. Vocês olham para trás. Elas não olham para trás. Vocês pensam, em inglês: "What the fuck...?"

A cena de exemplo foi apenas uma variável desse tipo de momento. O que importa nesses casos é o seguinte: eles terminam aí. Acabou! Foi a flertada* mais rápida que você já deu na sua vida, só pela graça de dar! Aí você pensa "poxa, será que eu deveria ter voltado para falar com a pessoa?" Não! Não deveria, porque é para acabar nisso e se você voltasse, não ia ser diferente! Essa é a graça desses momentos: eles não significam nada! Todo mundo já falou alguma merda para alguém no meio da rua, só por falar, e foi embora! Só dói não saber o que a pessoa ficou pensando depois disso. Talvez essa tenha sido a gota d'água na vida dela e por isso tenha se matado, por sua causa, e você nem descobriu!

* Com o perdão do uso do verbo "flertar", mas é uma ótima palavra!

Pois bem. Flertar é algo que, muitas e muitas vezes, existe pelo mero prazer da caçada. E em uma de nossas conversas ontem, cheguei à conclusão de que é mesmo! Por exemplo: há um cara, ele está no maior papo com a menina, linda, inteligente, corpo de dar inveja em um monte de mulher, dando o maior mole para ele. Só o que falta é a ação final, aquela que vai selar o pacto, o motivo de toda essa caçada. Ele levanta e diz, com um sorriso inocente de quem não sabe o que está fazendo no rosto: "Beleza, você é legal. Estou indo, tchau." E vai embora!** É como caçar um urso só para provar que você consegue! No fim das contas, você nem o mata. Só o machuca muito.

** A história, aliás, é verídica.

Outro exemplo bom é a vontade de querer ser difícil com uma mulher maravilhosa, aquelas princesas européias de filmes que se passam no século XVI. Há quem diga que isso é impossível. Não é impossível... Mas o cara tem que ter a carne de aço! Mas você vai dizer que é a mesma coisa do exemplo anterior. Não, não é! Antes, a idéia era ver até onde ele chegava, agora é ver até onde ELA aguenta! Infelizmente, não conheço uma história real para citar neste caso. Ninguém teve coragem o bastante para tentar ou, então, não teve coragem o bastante para contar.

Que tal isso: você está numa balada, ou seja lá o que for com música, e tem gente dançando. Uma pessoa está lá, sozinha, no meio da pista, aproveitando a noite como pode, você está na sua, também sozinho(a). Ela te olha e pensa que você deveria se juntar a ela, por que não? Você pensa que você deveria se juntar a ela também, por que não? Porque não! Você quer fazer experimentos sádicos com os sentimentos dela, com a mente dela! Por quê? Porque é divertido! Você sabe que consegue ficar com aquela pessoa, mas a questão é: será que ela sabe disso também? Há, então vamos testar, porque somos todos muito malvados!

Então, da próxima vez que você sair para caçar, lembre-se do que leu aqui e tenha em mente de que a caça pode te enganar e pegar você! ^^

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Crônica de um final de namoro

Eu, um rapaz ingênuo, imaginava o término de um namoro como algo semelhante ao tsunami, mas não: está mais para uma chuvinha ali no Aricanduva. Alaga, arrasta os móveis, suja o chão, deixa a sensação de tudo perdido, mas, com o tempo, é tudo reconstruído para o próximo temporal.

Acabar um relacionamento, meu caro amigo, tem três fases, na minha humilde (e não muito experiente) opinião: o período da “Fossa Generalizada”, o “Foda-se” e o da “Triste Solidão”. Explico:

Fossa Generalizada: é aquele estágio logo após o desastre. Você acabou de terminar o namoro e tudo te lembra a pessoa: o tênis verde que vocês compraram juntos, os momentos felizes naquele parquinho de diversão, algum filme romântico do Kevin Costner etc. Qualquer coisa, mesmo sem relação alguma com o namoro. É nessa fase que você pensa em se matar, se jogar na frente do metrô, cortar os pulsos, entrar na câmara de gás. Mas o pior é que a vontade de se matar não é tão simples: o suicídio deve acontecer na frente da pessoa que te abandonou, para ela ver como você está sofrendo. Porra!

Foda-se: o nome já diz tudo. Ela não me quer: foda-se. Ela arranjou outro: foda-se. Foda-se a família dela. Foda-se os amigos dela, os planos. Foda-se tudo e todos. Ela nem era tão bonita assim, tinha aquelas espinhas horríveis. Eu vou embora comprar um hambúrguer, isso sim. Eu encontro outra, cara. Existem três bilhões de mulheres no mundo. Quem ela pensa que é? Foda-se!

Triste Solidão: é quando você se dá conta que acabou mesmo: a pessoa não vai voltar, vocês não vão se ver mais, nem conversar. É o fim, cara. Aì bate a solidão. Ah, era tão bom namorar, curtir juntos... agora eu estou aqui sozinho, olhando para o computador, ouvindo Los Hermanos sem ninguém para cantar comigo. E nesse momento você percebe as pessoas te olhando e comentando: “Olha lá, não é aquele garoto que terminou o namoro?”.


Depois desses estágios você já estará livre para encontrar um novo amor, uma nova paixão arrebatadora, alguém com quem dividir a escova de dentes. Mas, infelizmente, tudo isso vai acabar também, te deixando deprimido, fodido e triste. A vida é assim mesmo.