terça-feira, 28 de julho de 2009

Paraná Siqueira, o palhaço

Paraná Siqueira era um palhaço. Tinha boca de palhaço, nariz de palhaço, olhos de palhaço. Tinha um palhaço como profissão há pelo menos 20 anos. Era um palhaço, não há dúvidas. Palhaço, palhaço, palhaço! Dos engraçados, é bom que se diga, afinal há aqueles sem graça. Palhaço! Silêncio Total, aí vem o palhaço Paraná! Do Paraná para o mundo das palhaçadas.

Durante duas décadas Paraná se vestiu como palhaço, brincou como um palhaço, pulou, cantou, deu cambalhota como um autêntico e tradicional palhaço. Se é que podemos dar a alcunha de tradicional a esse personagem tão singular; autêntico, sim, todos são, por dever do ofício, talvez.

Acontece que Paraná Siqueira não vivia como palhaço. A diferença era clara: um era outro, mas o outro não era o um. Há atores que dizem encarnar na vida real os seus personagens fictícios: adquire-se os hábitos, o jeito de falar, de se mexer, as boas e más maneiras, às vezes, até a personalidade. Paraná não passou por isso. Seu palhaço era um, ele, outro. Não pensava em piadas o tempo inteiro, não era engraçado quando comprava o pão na padaria, muito menos quando o acordavam às 6h15 da madrugada.

Paraná não era um palhaço quando bebia como um alcoólatra, muito menos era um palhaço nos 30 cigarros que fumava diariamente, nos muitos dias da depressão sem fim, nas muitas brigas com a esposa. Paraná não foi um palhaço quando bateu na esposa. Paraná não foi, de maneira alguma, um palhaço quando perdeu a sua perna esquerda em virtude de uma trombose.

“Quando eu ainda atuava, era o melhor palhaço de todos os palhaços do mundo das palhaçadas”, lembra, com o orgulho lhe saindo pelos olhos e pela boca, já com pouquíssimos e amarelados dentes.

Paraná frequentava festas infantis. Esse era o seu ganha pão: animar crianças. Aliás, não ganhava só pão, como também brigadeiros, beijinhos, bolos de aniversário e refrigerante de laranja, o que ele mais gostava. “O problema é que depois das festas, eu ia para o bar e a bebida consumia tudo: o dinheiro, o corpo, a consciência, Eu bebia até perder a graça”, lamenta Paraná.

Um dia, o palhaço Paraná apareceu em uma mais uma festa infantil. Pulou, cantou, contou piada, caiu, bateu com a cabeça na parede e nada: ninguém riu. Nem o mais constrangido dos sorrisos pôde ser visto em meio à plateia juvenil. “Hoje não estou engraçado”, pensou, lembrando dos humoristas, que, às vezes, deixam a graça lhes escapulir pelos ares, mas logo conseguem recuperá-la.

Mas não era apenas naquele dia. O palhaço de Paraná havia arrombado a porta, pulado o muro e corrido pela rua vazia. Havia fugido de Paraná para talvez encontrar outro infeliz que queira ser palhaço por 20 anos. Onde mora um palhaço? No circo, talvez, nas festas infantis, quem sabe? “O palhaço mora no coração”, responde Paraná Siqueira.