segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A misteriosa morte de Mauro Bigode

O Mauro Bigode morava na minha rua. Era bem apanhado, moreno, com um enorme bigode preto no rosto. Quando morreu, tinha por volta dos 50 anos, muito bem vividos, segundo ele. Era um homem tranqüilo, mas que desfrutou diversas aventuras na vida, algumas meio suspeitas, outras, verdadeiras, de fato.

Lembro que o Bigode (vou chamá-lo assim daqui pra frente) fingia ser cego para ganhar uns trocados como esmola no centro de São Paulo. Às terças e quintas ficava na Praça da Sé; segundas e quartas, no Viaduto do Chá.

– Não é bom ficar sempre no mesmo lugar, há um pessoal que desconfia – me disse, certa vez.

– Mas me diga uma coisa, Bigode, aonde você vai às sextas? – perguntei,

– Ah, isso é segredo, moleque.

Bigode era um bêbado contumaz. Não bebia cerveja, pois, para ele, cerveja é coisa de veado. Gostava de pinga mesmo, da braba, com um limãozinho pra adoçar. Várias foram as vezes em que foi aconselhado a parar, mas ele não bebia por vício, e sim para inspirar-se a escrever poemas. Sim, Bigode era poeta.

Mas a história de hoje não é sobre suas poesias, é sobre sua morte.

Como eu já disse anteriormente, era um mistério o que fazia Bigode às sextas-feiras, alguns especulavam que ele saía para beber; outros tinham certeza que eram coisas ilegais; já os mais amigos desconfiavam: Bigode tinha uma amante.

– Que nada, amo minha mulher, rapaz – contra-argumentava ele.

O casamento de Bigode não era a maravilha que se espera de um matrimônio. As brigas eram constantes, as agressões também, das duas partes, é bom que se deixe claro. A esposa de Bigode, Ritinha, era ciumenta demais e, por vezes, batia no marido em função de suas desconfianças.

Os gritos eram ouvidos por toda a vizinhança, as desavenças já haviam se transformado em caso de polícia.

– Se você bater nessa mulher de novo, acabo com a sua raça, rapá – disse um policial, certa vez, em tom de ameaça.

– Que isso, Seu Polícia, ela que me agride – tremendo, Bigode respondeu.

O trabalho de Bigode como cego falso andava muito bem, obrigado. Ganhava dinheiro suficiente para sustentar a casa, e mais algumas extravagâncias. Mas, por vezes, em suas sextas misteriosas, acabava se endividando demais. Fora ameaçado em várias ocasiões, em outras, apanhou mesmo.

Um dia, após chegar bêbado em casa, Bigode e Ritinha brigaram novamente. Agressões rolaram soltas. Os gritos foram ouvidos por todos os moradores da rua. A esposa, Ritinha, esbaforida, saiu de casa aos prantos; levando os filhos (dois) e algumas roupas.

Chegamos ao ponto crucial da história.

Depois da fuga de Ritinha, Bigode, misteriosamente, desapareceu do bairro. Foram muitos os dias sem notícias, nem sequer apareceu para tomar a cachaça sagrada na padaria, ou para escrever seus poemas, sentado em frente à sua casa. Nada.

Após algum tempo, o pessoal da rua sentiu um cheiro estranho vindo da casa do Bigode. Um cheiro forte, lembrando algo estragado. Havia também, ali, uma grande quantidade de moscas, daquelas grandes, sabe? Inexplicável, no início.

Três dias depois, o cheiro continuava forte. Ninguém suportava mais, e o número de moscas aumentava – era preciso uma decisão urgente!

Um velho conhecido da rua, o Paraná, arrombou a porta. O que encontrou o fez vomitar: Bigode estava morto, e seu corpo já em estado de decomposição.

O que ninguém sabe, meus caros, é o porque ou como Bigode morreu. Muitos acreditam em vingança de sua esposa, ou de alguma amante, ou até mesmo de animosidades contraídas em virtude das dívidas. Ou, quem sabe, uma paixão que o deixara deprimido a ponto de se matar. O que todo mundo sabia, na real, é que o cabra apareceu morto e ponto.

Até hoje sua morte é um dos maiores mistérios do bairro. Ninguém conhece o verdadeiro motivo que levou o cego-falso que escrevia poemas bater as botas. A polícia já desistiu do caso por falta de provas ou indícios. Eu, como bom jornalista que sou, tentarei desvendar o caso. Aguarde os próximos textos.

Agora, cabe apenas deixar meus últimos sentimentos ao querido Mauro Bigode e, talvez, com este relato, lembrar um pouco de sua ora poética, ora extravagante vida. Mas ninguém é perfeito, né não?

6 comentários:

Leandro disse...

A história é real, viu?

É tudo verdade!

Anônimo disse...

Olhaaa...quer dizer então que o Paraná era amigo do Mauro Bigode?
Interessante...hahahah
estou curiosa pra saber oq houve com ele.Aguardarei os próximos textos.
:]

Tatiane disse...

De fato, a história é triste sim!

Como você acabou de me dizer: "a morte é sempre triste...".
Mas algumas são mais do que outras. Pelo menos, é o que eu acho.

E seu bairro é cheio dos mistérios, em?
ahsuahsuashaha

Acompanharei os outros textos para saber como tudo isso termina.

Continue assim, sempre escrevendo bons textos. ;)

Beijo.

Jefferson Sato disse...

Já já da pra lançar um livro de contos. "Anais de Leandro". Huhauhauhauhau!

Mto bom, como sempre. Estou começando a cansar de te elogiar, vc sabe que é bom.

Anônimo disse...

eu percebo que leandro quer ser cronista, tô certa ou tô errada?

Nath disse...

Paraná Siqueira marcando presença de novo no blog! aê!
hauahaa

mas nossa, que nojo ver o cara em decomposição :s
fora isso, o texto ficou bom, leve e nada cansativo ^^

beijo Lê!