domingo, 29 de junho de 2008

A angustiada espera pelo ônibus

A humanidade deveria ser dividida em dois grupos: um de pessoas que esperam ônibus que passam rapidamente e outro com o resto do mundo, os infelizes que aguardam o veículo por mais de meia hora.

O primeiro grupo seria feito por pessoas felizes, sorridentes, que usam roupas coloridas e que nunca têm tempo para comprar uma tapioca naquela barraquinha ali do lado. A segunda parte – ao qual eu pertenço – contém pessoas tristes, angustiadas, que andam de preto e que sempre contam moedinhas para comer a tapioca.

– De queijo, por favor, seu Zé.

A saga de se esperar o ônibus começa quando eu piso no ponto e o vejo lotado. O fato de haver muitas pessoas ali me faz imaginar (não sei por que) que hoje finalmente ele passará mais rápido. Há um clima no ar: em dez minutinhos ele aparece, chegarei cedo em casa, vou comer aquele belo sanduíche que minha mãe está fazendo e, finalmente, dormir!

Os dez minutinhos se passam, os outros ônibus também, levando as pessoas felizes. E eu lá: mais cinco minutos e ele chega, não tem erro. Já estou até ouvindo o barulho característico que ele faz.

Quinze minutos: nesse momento vejo a senhora que pega o mesmo ônibus que eu. Não a conheço, não sei o seu nome, e nem se vende perfumes do Avon; mas nos damos bem, isso que importa. Aí nós trocamos o diálogo que se repete todos os dias, sem exceção:

– Tá demorando hoje, né? – eu pergunto.
– É verdade, será que quebrou pelo caminho? – ela diz.

Nos olhamos. Todas as pessoas que esperam ônibus demorados entendem esse olhar. Como assim quebrou? Será? Mas aí vai demorar umas duas horas! Não pode ser. E o meu sanduíche?

Trinta minutos: não tem mais ninguém no ponto. Apenas eu, a senhora que espera juntamente comigo, o Zé da tapioca e uma louca ali do lado que acredita ser recepcionista de hospital.

Quarenta minutos: eu desisto! Minha vida é uma bosta, trabalho demais, ganho pouco, durmo menos ainda, meu tênis está furado e ainda sou obrigado a comer essa tapioca horrível que o Zé faz. Tudo isso, sabe por quê? Porque a porcaria do ônibus não passa no horário certo.

É aí que o milagre acontece: escuto lá de longe o barulhinho do danado. Será que é ele, o meu ônibus? Logo vejo aquele letreiro brilhante, lindo. É ele mesmo.

– Estive esperando por você – eu digo para o ônibus, com a voz embargada.

Ele não responde, apenas estaciona, eu entro e esqueço meus problemas: agora só penso no sanduíche que está à minha espera.

8 comentários:

Leandro disse...

Eu sei que era a vez do Sato, mas resolvemos quebrar a regra de postagem dessa vez.

É isso...comentem e nunca deixem de visitar o neurolistas.

(nossa, que propaganda escrota)

Adeus,
sejam felizes!

Anônimo disse...

Adorei.

Jefferson Sato disse...

Isso me lembrou aquele seu texto sobre os infernos de SP.

Ótima propaganda. Você deveria virar publicitário pela São Judas.
HAUHAUHAUHAUHAUHAUHA
Brincadeira, queridos PPs.

Daniel A. disse...

Cara, quando o busão que vc tá esperando chega dá uma felicidade foda. Não sei explicar o que sinto a hora que eu vejo que é o meu busão...

Esperar o ônibus é ruim mesmo, mas nem se compara ao sofrimento de usar o metrô(linha leste-oeste de SP) de manhã às 7:00. Ele nem demora o problema é você conseguir entrar. Certa vez só consegui entrar depois de uma hora, deve ter passado uns 30 trens...e eu não conseguia entrar, mas nossa cidade amada é assim mesmo e você sabe disso já que usa o expresso leste todo dia(que é pior).



FLW!!!

Nath disse...

Muito bom o texto !
colocou todo um sentimento de ansiedade, depois raiva por ter que esperar e depois de amor ao ônibus.. ai, ai ! xDD

beeijo !

Gisele Simões disse...

ahuahuah.
lê...
já te disse isso milhões de vezes..
mas digo de novo.
adoro seus textos!!!!!!!!!!!!!1
falam de coisas q eu vivo todo o dia!
e esse então....
aiai.
demais..............


eu sou do segundo grupo, pra variar!!1

Anônimo disse...

Puxa que realidade eihn Lê..Me identifiquei muito com seu texto!!Eu também uso preto, ganho pouco, durmo pouco e espero o ônibus todo o dia em congonhas por mais de.. sei lá quanto tempo, já desisti de acompanhar o horário dele..e só pra completar eu também compro tapioca..mas prefiro a de leite condensado que a dona Maria vende ao lado do ponto de ônibus..puxa você não é o único eihn..rsrs
Esse transporte público de São Paulo realmente nos decepciona a cada dia..

Tatiane disse...

Acho que essa coisa de o ônibus que a gente espera sempre demorar a passar mais do que os das outras pessoas no ponto de ônibus acontece pelo mesmo fato de nós sempre acharmos que a fila do lado sempre anda mais rápido. o.O

Mas, ruim mesmo é quando o ônibus demora, o ponto de ônibus lota, daí o ônibus resolve dar o ar da graça e, pra sua infelicidade, todas aquelas pessoas paradas no ponto de ônibus pegam o mesmo ônibus que você, e você, pobre infeliz, não consegue pegar o maldito ônibus porque ele, simplesmente, lotou. E daí lá vai você ficar mais 30 minutos esperando outro ônibus. --'

Então, depois de esperar e esperar, e conseguir pegar um ônibus (lotado!), ter que pegar o metrô (que tá sempre lotado).

Aí sim você termina o dia como um paulistano feliz, realmente. =]

Texto dramático (como o autor), mas realista.
Gostei. :)