Raimundo olhou para o céu cinza. Como não havia mais nada a fazer, pensou: “hoje não é um bom dia para voar”. O vento leste ia devagar, quase parando; as andorinhas, as únicas no ar, chamavam a chuva temida, tão temida chuva. Os aviões, seres mecânicos, deslizavam inalcançáveis lá em cima, mas a uma turbulência do chão. Definitivamente, o céu não estava para os seres alados, constatou Raimundo.
Raimundo é um pombo. Voa pelo mundo, mas não é rima nem solução. Não é um pombo qualquer, desses imundos, é apenas Raimundo, o pombo, branco como a paz. Senhor de todos os sete céus, telhados e barraquinhas de hot dog.
Raimundo é nordestino, mas veio para São Paulo na boleia de um caminhão. Hoje mora na Praça Silvio Romero, no Tatuapé. Raimundo é recordista em bater recordes: é o primeiro pombo a atingir a marca de 200 grãos de milhos comidos em um único minuto; é o pombo com o melhor arranque quando chutado por ser humano; é líder mundial em lançamento de coco.
Acontece que Raimundo está doente. Não que ele vá morrer tão logo, longe disso, mas é grave, sim, o enfermo do pombo. Raimundo contraiu o mais temido vírus da comunidade pombiana: o VCD (Vírus Cai o Dedo). Sim, após contrai-lo, o animal perde todos os seus dedos do pé. Sem dó nem piedade. “Essa doença é muito comum hoje em dia”, disse Raimundo em entrevista por e-mail. Depois, pergunta: “você nunca reparou na quantidade de pombos sem dedos?”
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o VCD já atinge cerca de um terço de todo os pombos e pombas do planeta. Foram perdidos aproximadamente três milhões e meio de dedos. Um verdadeiro desperdício, se pensarmos nos direitos humanos.
“Para onde vão esses dedos todos? Para o lixo, é claro. Não há nenhum sistema de reciclagem e reaproveitamento para esse material”, diz Analisa Rosa, coordenadora da Organização Não-Governamental Dedo Vivo.
A depressão pós-dedo caído é outro problema levantado pelos defensores da comunidade pombiana. Afinal, dizem os especialistas, perder um dedo não é fácil, perder todos, pior. “Como andar? Como levantar vôo? E para comer os milhos do chão?”, questiona Raimundo, infeliz.
“Sabe, nós sofremos preconceito por parte dos outros pombos, os saudáveis”, diz Angelina, pomba há cinco anos, sem dedo há seis meses.
Com os machos, o preconceito é ainda maior. Dificilmente alguma fêmea se interessa por um pombo sem dedo. Não é metonímia, mas o dedo representa o todo. “Sem um dedo, pombos perdem a virilidade”, argumenta B.C., pomba menor de idade.
Raimundo não acredita nisso. “Sou tão bom de cama quanto antes”, confirma. No caso dessa doença, a confiança é muito importante. Por isso, Raimundo voa sem os dedos, mas com o orgulho pendurado nas asas. “Eu sou bom, cara...se alguém quiser, viro até Presidente da República”.
Raimundo é um pombo. Voa pelo mundo, mas não é rima nem solução. Não é um pombo qualquer, desses imundos, é apenas Raimundo, o pombo, branco como a paz. Senhor de todos os sete céus, telhados e barraquinhas de hot dog.
Raimundo é nordestino, mas veio para São Paulo na boleia de um caminhão. Hoje mora na Praça Silvio Romero, no Tatuapé. Raimundo é recordista em bater recordes: é o primeiro pombo a atingir a marca de 200 grãos de milhos comidos em um único minuto; é o pombo com o melhor arranque quando chutado por ser humano; é líder mundial em lançamento de coco.
Acontece que Raimundo está doente. Não que ele vá morrer tão logo, longe disso, mas é grave, sim, o enfermo do pombo. Raimundo contraiu o mais temido vírus da comunidade pombiana: o VCD (Vírus Cai o Dedo). Sim, após contrai-lo, o animal perde todos os seus dedos do pé. Sem dó nem piedade. “Essa doença é muito comum hoje em dia”, disse Raimundo em entrevista por e-mail. Depois, pergunta: “você nunca reparou na quantidade de pombos sem dedos?”
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o VCD já atinge cerca de um terço de todo os pombos e pombas do planeta. Foram perdidos aproximadamente três milhões e meio de dedos. Um verdadeiro desperdício, se pensarmos nos direitos humanos.
“Para onde vão esses dedos todos? Para o lixo, é claro. Não há nenhum sistema de reciclagem e reaproveitamento para esse material”, diz Analisa Rosa, coordenadora da Organização Não-Governamental Dedo Vivo.
A depressão pós-dedo caído é outro problema levantado pelos defensores da comunidade pombiana. Afinal, dizem os especialistas, perder um dedo não é fácil, perder todos, pior. “Como andar? Como levantar vôo? E para comer os milhos do chão?”, questiona Raimundo, infeliz.
“Sabe, nós sofremos preconceito por parte dos outros pombos, os saudáveis”, diz Angelina, pomba há cinco anos, sem dedo há seis meses.
Com os machos, o preconceito é ainda maior. Dificilmente alguma fêmea se interessa por um pombo sem dedo. Não é metonímia, mas o dedo representa o todo. “Sem um dedo, pombos perdem a virilidade”, argumenta B.C., pomba menor de idade.
Raimundo não acredita nisso. “Sou tão bom de cama quanto antes”, confirma. No caso dessa doença, a confiança é muito importante. Por isso, Raimundo voa sem os dedos, mas com o orgulho pendurado nas asas. “Eu sou bom, cara...se alguém quiser, viro até Presidente da República”.
5 comentários:
Essa reportagem surgiu de uma constatação minha e do Sato, num dia desses lá no Tatuapé.
Acho que é isso.
Tchau.
Ha o Lula é um pombo?
ai que engraçado esse texto!!!!
Abraços....
Quanta criatividade! hahaha
Gostei.
Dúvida: o Daniel não posta mais aqui não? :S
Haja criatividade hahaha
De qualquer forma é pra se refletir
MANO, EU TO MORRENDO DE RIR!!!! LEMBRANDO DA NOSSA CONVERSA!
Muito engraçado! "Analisa" foi foda! Hahahahaha
Mas o auge do texto é "Angelina, pomba há cinco anos". Hahahahaha!
Cara, como a gente fala bosta! Olha o tipo de assunto que surge das nossas conversas.
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