quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O conturbado Natal do Senhor Junior

O Senhor Junior tinha por volta dos 40 anos, já com alguns fios de cabelo branco. Pintor de paredes durante o ano inteiro, agora estava em férias. Neste fim de ano, resolveu diferenciar as já tradicionais festas de confraternização: pretendia visitar alguns parentes em Niterói, no Rio de Janeiro.

Junior morava em Santo Amaro, zona sul da cidade de São Paulo. Agora estava no terminal rodoviário do Tietê. Esperava ansiosamente o momento de comprar a passagem que o levaria ao Rio. Guardou os 60 reais em sua carteira, e sentou em um banco na sala de espera do terminal.

No banco ao lado, havia uma mulher que logo lhe chamou a atenção. Ela vestia uma saia vermelha, com uma camisa regata preta e uma sandália sem salto. A beleza da mulher foi algo que impressionou Junior, mas uma coisa o deixou realmente inquieto: a mulher chorava copiosamente.

– Posso ajudá-la? – perguntou, preocupado.
– Acho que não – respondeu a moça, soluçando.
– Posso tentar, pelo menos? Diga-me o que está acontecendo – tentou Junior.
– Bom, – começou a moça, tentando cessar o choro – acabei de chegar a São Paulo, sou de Minas Gerais. Meu pai, que mora aqui, está gravemente doente. Vim visitá-lo, mas estou totalmente sem dinheiro, e como não conheço nada daqui, não sei o que fazer.
– Onde seu pai mora? – perguntou Junior, derretido pela história da moça.
– Ele está internado em um hospital perto da Avenida Paulista, se eu não me engano – completou a moça, com lágrimas nos olhos.

Posso ajudá-la, pensou Junior, Minha viagem pode esperar um pouco.
– Posso levá-la até a Paulista – sugeriu Junior à garota.
– Seria muita bondade sua.

Pegaram um táxi, pois era início da madrugada e todos os ônibus da cidade já não circulavam mais.
O desejo de amparar a moça era, apenas, pura solidariedade, não havia nenhum propósito sexual ou aproveitador. É natal, não é isso o espírito natalino? Ajudar o próximo? – pensou.

O Senhor Junior reparou que a moça não chorava mais. Até esboçava certo sorriso. Deve ser difícil chegar a uma cidade desconhecida, refletia ele. Pelo vidro do veículo, Junior e moça viam São Paulo iluminada pelas luzes do Natal. As árvores enfeitadas com pequenas lâmpadas brilhantes, as casas com muitos enfeites, as pessoas animadas com o calor do fim do ano. Era sábado, a cidade agitava-se na madrugada: o clima natalino estava no ar.

Quando o táxi parou em um pequeno congestionamento na Rua Augusta, a moça disse:
– Você pode me deixar aqui.
– Como assim? – perguntou Junior, estranhando a situação.
Ela abriu a porta e saiu do carro, correndo. Junior tentou segui-la, mas foi bruscamente interrompido pelo motorista do táxi.
– Você tem que pagar a corrida – gritava o motorista, nervoso – São 25 reais.

Enquanto pagava ao taxista, Junior viu de relance a moça chorosa entrar em um dos famosos inferninhos da Augusta. E o seu pai doente? Ela é prostituta! Fui enganado!





Feliz Natal!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Violência e festa

Vou falar de um assunto que realmente me interessa: torcidas organizadas. Apesar de ser paulistano, passei grande parte da minha vida morando em outros lugares e só esse ano voltei a viver em minha terra natal, finalmente podendo acompanhar meu time de coração de perto: Corinthians. Passei 2007 freqüentando estádios junto da torcida que faço parte.

Antes de ler esqueça seus pensamentos preconceituosos formados através da imprensa sensacionalista. Ao contrário do que muita gente pensa nem todo mundo que faz parte de uma torcida organizada é bandido, drogado ou maloqueiro. Existem pessoas normais que trabalham, estudam, possuem família e que fazem parte das torcidas uniformizadas. É óbvio que também há um bom número de marginais freqüentando tais locais, mas não caia no erro que algumas pessoas cometem de generalizar.

Primeiro é preciso se pensar nos fatores que levam um jovem a entrar em uma torcida. Auto-afirmação? Sim. Imagine você um moleque que vive em um bairro pobre, apanha da molecada da sua rua...Acredite, é em uma torcida que esse moleque vai buscar respeito. Muitos acham que entrando e andando com a camisa da torcida serão respeitados. Presenciei alguns casos assim. Mas há também pessoas que se filiam por gostar das festas que as mesmas proporcionam dentro dos estádios. Outros por influências de amigos ou por gostar de freqüentar estádios e ver na torcida uma forma de contribuir com o time.

De fato existe violência entre as torcidas. Há quem defenda a extinção delas, mas realmente será que as brigas acabariam? O fato de não termos mais a presença das faixas, camisas, bandeiras e o próprio show que elas proporcionam nas arquibancadas fariam alguns perderem o interesse. Mas é ingenuidade achar que não teríamos mais violência. Tivemos torcidas que foram extintas por um tempo, mas a própria PM solicitou junto ao ministério público que a extinção fosse reavaliada pois as torcidas continuavam brigando e era extremamente difícil identificar os torcedores já que eles não mais vestiam as roupas de seus respectivos grupos.

Alguns imbecis da imprensa esportiva insistem em dizer que a violência no futebol é exclusividade brasileira. Mas em alguns países europeus o negócio é bem pior que aqui. Lá além do fanatismo pelo futebol, algumas torcidas possuem grandes influências de ideologias neonazistas. É o caso da torcida da Lazio, da Itália. Que têm tantos skinheads na torcida, que não é raro ver jogadores fazendo a saudação fascista para as arquibancadas. Atitude extremamente condenável. A violência do futebol atinge também Espanha, Turquia, Grécia, Croácia, Inglaterra, Alemanha, entre outros. A diferença é que nestes países se um torcedor é pego, ele realmente é punido. No Brasil muito dificilmente algo é feito. O indivíduo vai pra delegacia presta esclarecimento e pronto, está livre para ir embora. E é aí que está a grande falha.

Na Inglaterra, berço dos famosos hooligans, a violência diminui muito. Providências mais sérias foram tomadas após o massacre ocorrido no estádio do Sheffield Wednesday onde 96 torcedores do Liverpool morreram esmagados contra o alambrado, depois que uma confusão estourou nas arquibancadas. Aconteceu no jogo de semifinal da FA Cup entre Liverpool e Notthingham Forest em 1996 e o episódio ficou conhecido como tragédia de Hillsborough. Depois disso instalaram câmeras em todas as dependências dos estádios e em suas adjacências, prenderam os chefes de torcida e passaram a ter leis específicas e rigorosas quanto às brigas no futebol. Lá inclusive foi criada uma lei onde o torcedor pego em uma briga é obrigado a se apresentar em uma delegacia duas horas antes do jogo e só pode sair duas horas depois, e deve fazer isso por dois anos. Imagine o que é para um torcedor fanático ficar dois anos sem poder assistir seu clube de coração? Ele no mínimo vai pensar duas vezes na hora de brigar novamente. E se ele não se apresentar na delegacia eles aumentam em seis meses a pena, chegando a manter o indivíduo preso se as faltas forem superiores a três. As brigas hoje na Inglaterra não são como antigamente, tanto é que os hooligans ingleses aproveitam para brigar em torneios e jogos de seus times em outros países europeus.

Está claro que o Brasil precisa de uma legislação específica para o futebol. A maioria dos torcedores sabe quem são os líderes de torcida que estão nas brigas e confusões Mas a polícia não faz nada. Já presenciei uma briga em que o policial dizia: “Deixem se matar depois a gente volta e prende alguém e tá tudo certo”. Pois é. Enquanto não houver punições severas pode esperar que vai continuar do jeito que está.

O papel da imprensa nessa hora é informar com responsabilidade. Acontece que muitos programas transmitem tais fatos de maneira leviana e sensacionalista, acredite, trazendo ainda mais prestígio e fascinação entre a molecada que almeja um dia entrar uma torcida. É como o brilhante Paulo Vinícius Coelho da ESPN Brasil falou: “Se um torcedor é morto em uma estação de metrô a 20Km do estádio, isso passa a ser um problema de violência urbana e não do futebol”. É preciso ter cuidado para não tirar a responsabilidade dos órgãos públicos, pois está claro não há seriedade na hora de punir os infratores. Ir a um estádio de futebol não é das tarefas mais tranqüilas, mas também não é nenhuma ida ao inferno. Há um certo exagero em relação à violência nos estádios, quem freqüenta sabe que é uma atividade qualquer, que exige apenas alguns cuidados básicos, do mesmo jeito que exige um show ou algum evento com grande aglomeração de pessoas. Até porque é impossível brigar no estádio, as confusões acontecem em locais distantes e muitas vezes são marcadas com antecedência pelos torcedores.

Acabar com as torcidas é transformar o espetáculo que é um jogo de futebol em um jogo de vôlei. Todo mundo sentadinho assistindo quietinho. O que não corresponde ao amor do brasileiro. Futebol é paixão, fanatismo, choro, alegria...Falta a responsabilidade tantos de seus freqüentadores quanto das pessoas que fiscalizam o esporte, Aí sim, o espetáculo seria perfeito.

Obs: Divulguei esse blog para alguns seres abissais, por favor, não se sintam tímidos em comentar.

sábado, 8 de dezembro de 2007

E Sato disse: Faça-se a postagem!

Vou reafirmar uma coisa: Eu não vou seguir ordem de postagem coisa nenhuma! Se vocês querem postar aqui numa ordem toda semana, o problema é de vocês dois! Se não gostaram é só me expulsar! Por culpa dessa regra imbecil eu estou aqui sem ter o que falar só para cumprir tabela. Aí eu sou obrigado a falar de uma coisa idiota, de uma forma idiota pra chegar num resultado idiota só para eu poder dizer "postei". Então chorem:


Eu estava aqui me lembrando de conversas minhas para ter uma idéia e lembrei de uma coisa legal: ataques de loucura.

Eu e o Daniel estamos sempre conversando sobre coisas sem sentido e começamos a imaginar acontecimentos absurdos, como dar um murro com soco inglês em uma velhinha de bengala que está tentando entrar no vagão do metro e gritar "Sai tia! Sai no rolê!". Ou pegar um copo de 700ml cheio de Coca-Cola e jogar na cara dando uma risada alucinada. Ou ácido! Ou ainda fazer um bate-cabeça no elevador lotado. Ou explodir o elevador lotado! Andar na rua e dar um tapa em uma pessoa aleatória, gritando "CALA A BOCA! CALA A BOCA! AHHHHHH!". Esse tipo de coisa que todo mundo gostaria de fazer em um momento de cérebro desligado, agir totalmente por impulso e rir. Rir como se não houvesse amanhã.

Eu realmente acho que, se tem uma forma de nos libertarmos dos nosso problemas e sermos felizes, é fazendo algo assim. Porque, muito provavelmente, o cara que fizer qualquer uma dessas coisas, entre outras, não terá a chance de continuar a vida mais tarde. Mas é isso que procuramos, um momento de 100% liberdade. Vivemos nossa vida inteira pelas regras da sociedade, estudamos feito uns loucos para trabalharmos feito uns loucos e forçamos a sanidade em nossas cabeças, se é que pode chamar de sanidade viver pelas regras que os outros impõem. A verdade é que ninguém vive como quer, não importa como veja. "Ah, mas eu sou feliz.". Pode até ser, mas não é o bastante. Feliz é o cara que mora no meio do mato longe da civilização e acha que não precisa de mais nada. Ele sim faz o que quer!

É por isso, alias, que eu gosto do Coringa (do Batman). Ele como vilão é meu sonho de vida. Ele é doentio, perverso e espontâneo. E acha isso muito engraçado. Vocês devem estar achando que eu gostaria de ser um psicopata assassino e enlouquecido, não é? Pois vocês estão certíssimos. Se eu tivesse chance de sair matando quem eu quisesse e pudesse sair impune dessa... Eu ia livrar o mundo de um monte de gente que eu não suporto, incluindo eu mesmo quando terminasse o serviço.